As lideranças sindicais e associativas que subscrevem esta nota, mulheres presidentas de Associações e Sindicatos Nacionais representativos de carreiras do serviço público federal e diretoras de organizações da sociedade civil, vêm a público manifestar solidariedade à ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e expressar repúdio à conduta misógina de senadores. Os episódios ocorridos na sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado Federal nesta terça-feira, 27 de maio, além de inaceitáveis, revelam as raízes profundas do machismo estrutural e seus reflexos na política brasileira, que ainda sofre com a falta de representatividade feminina, hoje bastante inferior à média mundial, inclusive de países como Arábia Saudita e Iraque.
Apesar de representar 51,5% da população, apenas 37,8% dos cargos de alta liderança na Administração Pública federal são ocupados por mulheres e somente 11% por mulheres negras. Além disso, pesquisas recentes indicam que 6 em cada 10 mulheres líderes no âmbito federal relataram já ter sofrido assédio moral no ambiente de trabalho. E para 64,2% delas, a estrutura machista e o sexismo são grandes obstáculos para a permanência em cargos de liderança.
Jamais um ministro ou ministra de Estado foi tão desrespeitado(a) ao comparecer, na condição de convidado(a), a uma audiência no Parlamento. Basta lembrar das recentes participações do então ministro da Justiça, Flávio Dino, em audiências públicas. Embora os debates tenham sido, por vezes, tensos e acalorados, em nenhum momento ele foi convidado a “se pôr no seu lugar”. Os ataques à ministra Marina Silva e as reiteradas tentativas de silenciamento, cortando o microfone e evitando ceder a palavra a ela, foram sucedidos por afirmações como: “a mulher merece respeito, a ministra não”.
Não é possível separar a mulher Marina Silva de seu cargo público, como ministra de Estado, ambientalista e uma das vozes políticas mais relevantes do país. Tratava-se apenas de uma tentativa óbvia de se eximir da responsabilidade pelo ato reprovável: uma clara violência política de gênero.
A sociedade brasileira precisa deixar de normalizar esse tipo de agressão, que busca minar nossa autoridade e nos descredibilizar.
O Parlamento é peça fundamental para a superação das tristes cicatrizes de uma sociedade marcada por um dos maiores índices de feminicídio do mundo e por persistentes desigualdades no mercado de trabalho e nos espaços de poder da República. Combater essas violências e desigualdades é parte essencial da nossa atuação.
Não nos calaremos. Continuaremos a ocupar o nosso lugar na política, nas grandes empresas ou nos lares.
À ministra Marina Silva, e a todas as servidoras que enfrentam situações similares em suas rotinas de trabalho, nosso respeito, solidariedade e apoio.
Confira Nota de solidariedade à ministra Marina Silva.