Dia Mundial da Vacinação: imunizantes são a arma mais eficaz no combate às doenças
Saúde | 14 de outubro de 2021Autor: Erika Braz
Em termos de saúde pública, a vacinação em massa é a ferramenta mais poderosa contra as doenças transmissíveis, como afirmam autoridades e entidades sanitárias mundiais. No enfretamento da Covid-19, isso está mais do que provado. A pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 4,8 milhões de pessoas em todo o mundo, só está sendo contida graças à vacinação.
Depois de uma corrida de laboratórios fármacos por um imunizante contra o coronavírus, o mundo já assistiu a conquista de 12 vacinas comprovadamente capazes de proteger as pessoas dos casos graves da doença. Hoje, elas estão sendo aplicadas em diversas nações. A Rússia, por meio da Sputnik V, foi o primeiro país a anunciar a vacina, ainda em novembro de 2020 - quase um ano após o surgimento dos primeiros casos da Covid-19.
Essa corrida valeu a pena. Com todas as vacinas disponíveis no mercado, até setembro deste ano, já foram aplicadas mais de 6,3 bilhões de doses de vacina contra a Covid-19 na população maior de 12 anos, em todo o planeta, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Poderosa proteção
Mas, por quê a imunização é tão importante no combate da Covid-19 e de outras doenças transmissíveis? A explicação mais óbvia é que uma pessoa vacinada não está sujeita às formas graves das doenças, estando livre de sequelas e até da morte.
Outros fatores somam-se à positividade da vacina: pessoas imunizadas ajudam a reduzir o contágio das doenças, diminuindo a transmissão delas. Com baixa disseminação, caem também o número de doentes e de internações hospitalares. E, consequentemente, ocorre a redução do uso de medicamentos e, dependendo da quantidade de pessoas vacinadas, a doença é erradicada. Ao longo da história da vacina no Brasil, o país já erradicou doenças como poliomielite, a rubéola e o sarampo.
O médico infectologista, Alexandre Cunha, reforça: “nenhuma vacina é muito eficaz no sentido de evitar a simples infecção, mas ainda assim, em algum grau, elas diminuem os infectados sintomáticos e diminuem a transmissão. Então, ao se vacinar, além de se proteger, você está protegendo outras pessoas que não se vacinaram”.
Essa proteção secundária é chamada pelos cientistas e médicos como imunização de rebanho. Portanto, o contrário disso é preocupante. Indivíduos não vacinados contribuem para manter crescente na população a transmissão dos vírus e bactérias causadores de doenças. “No caso da Covid-19, a gente vê que a enorme maioria dos pacientes em UTI são indivíduos não vacinados. Isso é muito triste. A gente não imaginava ver isso”, desabafa o médico, que tem atendido pacientes com Covid-19, em Brasília.
Revolta da vacina de 1904 e de hoje
Mesmo com todas as provas de seus benefícios, a vacinação enfrentou e ainda enfrenta obstáculos. Em 1904, a população do Rio de Janeiro não gostou de ser obrigada pelo governo a se imunizar contra a varíola – uma das doenças que mais matava na época – e, assim, deu início à histórica “Revolta da Vacina”.
Um dos sanitarista mais importantes do mundo, o brasileiro Oswaldo Cruz era um dos principais alvos dessa rebelião, por ser idealizador da vacinação em massa no Brasil, começando pela capital da época, a cidade do Rio de Janeiro. A revolta foi motivada pela falta de informação sobre a imunização e porque a ordem era vacinar as pessoas a força.
Ocorre que mesmo nos tempos atuais, com toda a informação disponível, a vacinação ainda tem entraves a vencer. Justamente por ter erradicado doenças, ela acabou sendo deixada de lado nos últimos anos e o resultado disso foi que algumas doenças começaram a voltar, como o sarampo, com casos de morte registrados no Brasil, em 2019, além de epidemias na Europa e nos Estados Unidos no mesmo ano. “Acredita-se que pelo fato de a vacinação ser um sucesso, causa a falsa sensação de que as doenças não existem mais e, portanto, que não há mais a necessidade de se tomar as vacinas”, explica o pediatra do Instituto Fernandes Figueira da Fiocruz, José Augusto Britto.
Britto alerta que a imunização em massa deve seguir incansavelmente. “Embora as doenças evitáveis por vacinação tenham se tornado raras em muitos países, os agentes infecciosos que as causam continuam a circular em algumas partes do mundo. Em um mundo altamente interligado, esses agentes podem atravessar fronteiras geográficas e infectar qualquer pessoa que não esteja protegida”, destaca.
Movimento antivacina
Outra barreira enfrentada pelos imunizantes são os chamados movimentos antivacina – grupos que surgiram nos Estados Unidos, no século 19, e vêm se espalhando pelo mundo. A Fiocruz explica que, de maneira equivocada, eles usam artigos científicos de interesses escusos contra a indústria farmacêutica. “Adiante, surgiram movimentos, ora de cunho religioso, ora filosófico, que advogam a favor de não se sobrecarregar o sistema imunológico das crianças e considerando que a imunidade natural poderia dar conta da proteção”, salienta o médico José Augusto Britto.
Um dos argumentos usados pelos movimentos antivacinas é que, mesmo vacinada, a pessoa pode pegar a doença, então, não tem razão para os imunizantes serem aplicados. Porém, não ter contato com o vírus não é a promessa das vacinas, como detalha o infectologista Alexandre Cunha.
“A pessoa pode se vacinar e pegar a doença da mesma forma, porque a vacina, embora estimule o sistema imunológico a combater o agente, muitas vezes não é o suficiente para que as pessoas sejam absolutamente assintomáticas. Mas, em geral, elas desenvolvem quadros muito brandos das doenças. A função das vacinas é que, uma vez que a pessoa se infecte, ela não manifeste sintomas da doença, principalmente os mais graves. As vacinas não fazem com que as pessoas não se infectem, que elas não peguem o vírus, a bactéria, mas elas ajudam a pessoa a combater esse organismo”, pontuou.
Movimentos antivacina usam os efeitos colaterais como um dos principais argumentos. Alexandre Cunha rebate: “vacinas já têm a segurança testada, além dos estudos clínicos antes da vacinação em massa. Das diferentes vacinas para a Covid-19 que a gente tem, por exemplo, os efeitos colaterais graves com Coronavac não foram relatados, efeitos com AstraZeneca é uma ocorrência muita rara de trombose. Já vi casos de miocardite pela vacina da Pfizer, mas também casos por milhão. Mas, a prevenção contra a Covid-19 supera e muito esses riscos. A mortalidade pela doença é mais importante. Além disso, esses efeitos colaterais geralmente são brandos, facilmente reversíveis”.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica os movimentos antivacina como “um dos dez maiores riscos à saúde global”. Relatório da entidade divulgado em 2019 alerta: “esse movimento ameaça reverter todo o progresso alcançado no combate a doenças evitáveis por vacinação”.
Vacinação no Brasil
Pouco é divulgado, mas o Brasil é um dos países com maior avanço quando se trata de imunização de sua população. Também é um dos maiores produtores de imunizantes do mundo, com laboratórios públicos renomados, como Biomanguinhos e o Instituto Butantan.
No país, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece, gratuitamente, 19 vacinas por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI). O Brasil tem mais de 36 mil salas de vacinação – sem contar com o período de campanhas. Algumas vacinas estão disponíveis durante todo o ano nos postos de vacinação, como hospitais e unidades de atenção básica; outros imunizantes são aplicados por meio de campanhas sazonais, a exemplo da vacina da gripe (Influenza) e a mais recente contra a Covid-19.
Em relação à Covid-19, especialistas destacam que a vida normal, sem máscaras, sem grandes riscos e sem a necessidade de isolamento só será possível com, ao menos, 70% da população completamente vacinada. Conforme dados do consórcio da imprensa brasileira, a vacinação completa no Brasil (duas doses ou dose única) está em torno de 40%.
Como ainda não há vacinas para menores de 12 anos, cabem aos adultos e adolescentes se vacinarem para os mais novos. Enquanto isso, a ciência trabalha em estudos que atestem a segurança da vacina nessa faixa etária.