No dia 24 de junho de 2023, a Organização das Nações Unidas (ONU) celebrou, pela primeira vez, o Dia Internacional das Mulheres na Diplomacia, data emblemática que visa reconhecer o papel fundamental das mulheres no fortalecimento da diplomacia brasileira. Apesar de recente, essa celebração oficializa uma presença que já existe há mais de um século no Brasil, a das mulheres no Serviço Exterior.
Foi em 1918 que Maria José de Castro Rebello Mendes fez uma marca na história ao ingressar na carreira diplomática, sendo aprovada em primeiro lugar no concurso de admissão. Sua entrada, no entanto, não foi simples: Maria José precisou enfrentar a revogação inicial de sua inscrição, alegadamente por ser mulher, e lutar judicialmente pelo seu direito de participar do certame. Com sua posse, não apenas se tornou a primeira diplomata brasileira, como também forçou a administração pública a adaptar-se, promovendo a construção do primeiro banheiro feminino no Itamaraty — um símbolo prático de sua conquista. Atualmente, o Anexo I do Ministério das Relações Exteriores leva seu nome, em justa homenagem.
Desde então, infelizmente, as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no Itamaraty parecem não ter diminuído. Segundo os Boletins Estatísticos lançados anualmente pela Administração do Ministério das Relações Exteriores, apenas 37% dos 2945 servidores da ativa no MRE são mulheres. Esse percentual varia entre as diversas carreiras que compõem o Serviço Exterior Brasileiro, sendo que o número de mulheres diplomatas ainda é significativamente menor: em 2025, elas representam apenas 23% dos integrantes ativos da carreira. Esse dado revela a persistência de barreiras no ingresso e tem reflexos diretos, sobretudo, na ascensão aos cargos mais altos, como chefias de embaixadas e de postos multilaterais.
A luta por maior equidade de gênero na diplomacia brasileira vem avançando por meio de conquistas e iniciativas institucionais, como a criação, em 2006, da Comissão de Gênero e Raça do MRE, com foco em políticas de inclusão, formada por representantes de todas as carreiras, e a elaboração e publicação anual, desde 2022, do Boletim de Participação das Mulheres no SEB, com estatísticas de gênero por cargo e postos no exterior.
Convém ressaltar que a presença de mulheres na diplomacia vai além de ser diplomata de carreira ou servidora do Ministério das Relações Exteriores. Uma das personagens mais importantes na história das relações exteriores moderna, a cientista brasileira Bertha Lutz, é exemplo disso. Chamada para compor a missão brasileira na Conferência de São Francisco, teve papel imprescindível na inclusão da igualdade de gênero na Carta da Organização das Nações Unidas.
Ocupar espaços historicamente restritos, imprimindo visão estratégica, diversa, plural e, acima de tudo, feminina, é essencial para a construção de uma política externa brasileira ainda mais eficiente.
Que nesta data, ao reconhecer o importante legado das mulheres que fizeram e hoje fazem parte da nossa diplomacia, possamos incentivar e inspirar mais mulheres a representarem o nosso país.